terça-feira, 8 de maio de 2012

Filme de terror



Aquele verme enfiou o cano na minha cintura e me mandou calar a boca. Tentei reagir e ele disse que era para ficar quieta se não morreria ali mesmo. Olhando para frente disse que se quisesse poderia levar minha bolsa, mas ele na sua doença chegou bem pertinho da minha orelha e disse “quero você”. O medo voou em mim e fiquei paralisada enquanto ele me conduzia pela rua quase escura abraçado a mim.

As lágrimas escorriam gritando por socorro, mas ninguém ouvia. A minha voz presa pelo medo tentava implorar no seu sussurro para que ele me soltasse, mas cada vez que lhe dirigia a palavra apertava meu braço com mais força e dizia “cala a boca filha da puta! Você não ta entendendo o que eu quero?”.

Quando chegamos no fim da rua, entramos por um beco que sai na vila vizinha. Ali mesmo ele me jogou num monte de areia e enfiou aquela língua imunda na minha orelha enquanto arrancava minhas roupas numa voracidade assustadora. Seus olhos vermelhos me engoliam ao mesmo tempo em que aquela boca nojenta beijava meu corpo. Quando finalmente ele abriu minha calça e se enfiou em mim.

Eu gritava e cuspia e xingava aquele demônio e ele não se importava. Eu gritava e ninguém me ouvia. Pensava em mim como um animal selvagem pensa na sua presa.

Já estava quase sem força quando ele terminou. Levantou-se sorridente, me chutou, me violentou mais do que já tinha me violentado com palavras socos e pontapés. Olhou para mim com seu olhar de cão e seu riso sádico e disse “agora vê se cala a boca, se não quiser morrer, se você abrir a boca eu apareço na sua casa e sento o dedo em toda sua família”.

Não fui a delegacia. De vez em quando eu o vejo passando em frente a minha casa. Eu mudei. Ninguém sabe o que aconteceu.

Depois daquele filme de terror nada mais faz sentido para mim. Naquela noite eu morri e morreu todo o amor que pudesse existir na minha alma...


* Carol Miskalo, texto publicado originalmente no fanzine Cartel do Rap (2009)

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