sábado, 2 de abril de 2011

Águas de março _ Por: Sílvio Campana

Ou, no meio de uma chuva torrencial havia um teatro, uma troupe, seus amigos
e suas histórias. Então, plena a noite, uma cidade era só emoção.

Manifesto Teatral, direção Carol Miskalo



filhas-do-poder












Cena da peça "As Filhas do Poder", texto de Arinha Rocha e direção Carol Miskalo


No Café com Teatro há crianças que riem e gente que espera. Há homens que atrasam e mulheres que brilham.
Enquanto a chuva cai, no Café com Teatro, há pessoas que correm e se pintam e dizem todas as tintas à parede. Vestem-se, revestem-se, maquiam a cara, desvendam a vida e se revezam. Alguns espreitam, invejam. Outros - a maioria - observam e aplaudem. No Café com Teatro, há humanos que sentem.

Ao palco, há os que fazem rir e os que fazem chorar. E há os que habilitam goteiras como cenário para um elogio musical à amizade que quebra fronteiras. No Café com Teatro, não há anistia. Existe é lembrança, paciência e perseverança frente a um tempo perdido. Enquanto a água molha os rostos e lava as almas, as cabeças maquinam os sonhos. E a luta pela dignidade da arte se impregna na pele dos que ainda nao tinham febre.

No Café com Teatro, enquanto a chuva cai, há os que com suas mãos fizeram de estopa, fuxico, e de erva-mate, licor. E existem os couros que viraram chinelos e os bambus que viraram flautas por um jeito minucioso de alguém. Também há os que de simples olhares farão amores.

É final de março e as águas para Iara, fechando o verão, são implacáveis. Em vez de estrelas no céu, um breu. Mas no pátio que circunda o espetáculo, existe o aconchego e a importância das iniciativas modestas e legítimas. No Café com Teatro, tudo que é pouco, aparentemente comum ou difícil, faz-se imponente como o vento que vez ou outra bate na madeira do velho barracão lotado. E o olhar sincero daquela gente teimosa que o organizou me satisfaz.


Leia a crônica do jornalista Silvio Campana

Um comentário: