segunda-feira, 21 de junho de 2010

Chove muito aqui...



O ônibus vai lotado em direção ao lado leste da cidade. Na estação do latão não sei o que toca, mas no meu fone ta rolando o som do Rajada Mc’s. Estou sentada no meu lugar preferido, perto do cobrador onde tem um lugar pra apoiar os pés, o que me permite assim, colocar meu caderno na perna pra poder escrever. Do meu lado tem um senhor grisalho que está encolhidinho por causa do frio que veio com a chuva. Bem na minha frente tem um cobrador entediado que, para se distrair, tenta puxar conversa com uma cara fechada e outra com um sorriso amarelo sem muito sucesso. Do outro lado do ônibus, tem um mudo contando o que traz na caixa enquanto rasga um pedaço de papel para pegar um pão que traz na sacola do mercado. Deu para entender que era leite pelo gesto tão sugestivo que fez para seu companheiro, isso gerou uma boa gargalhada que por instantes acabou com o marasmo da viagem.

Olho para fora da janela, vejo a chuva que não pára, as pessoas que correm, que abrem guarda-chuvas e tentam se esconder do aguaceiro que cai do céu.
E a chuva...

O cheiro forte que estamos sentindo denuncia um dia de trabalho duro. Já se passam das seis e meia e a lotação está cheia de trabalhadores. Lá atrás tem um grupinho de universiotárias que começam a rir e zoar o cheiro que impregnou o ônibus, o cheiro do trabalho duro que elas não precisam exercer. Enquanto isso, reparo no homem que se envergonha de estar ali, daquele jeito e franze sua testa num sinal de vergonha e indignação. Talvez a mesma indignação que estou sentindo agora. Foi uma senhora gorda que acabou com a farra, ouvi a voz lá de trás gritou:

“Se tá achando ruim por que não tá de carro, princesa?”.

Aí foi um coro de vaia pras patasque calaram a boca e foram o resto do caminhosem grunhir uma palavrinha. Merecido!!! Está na hora de descer. Pego minha sacola, meu guarda-chuva e meu material, putz, quase falta mão para segurar tantas coisas... Ando até a porta, desço, abro o guarda-chuva e olho para o ônibus que agora vai continuar seu trajeto com algumas pessoas chegando, outras partindo.

Algumas veremos amanhã, outras não...
O ônibus seguirá seu caminho cheio de problemas, rostos e corpos cansados e sempre com a mesma indiferença de uns com os outros...


(Ana Carolina Miskalo)

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