sexta-feira, 1 de abril de 2011

Da Janela I




todas as noites abre a janela da sua casa para ver se encontra novamente aquele homem alto que passa na rua da sua casa. ele passa lentamente arrastando seu chinelo de dedo como se tivesse concreto nos pés. cabisbaixo, nem percebe sua presença.

mas, religiosamente, senta-se na cadeira que fica próxima a janela da cozinha só pra esperar por ele.

e ele sempre aparece…

silencioso

cansado

triste

com toda melancolia que pode guardar em si. como se uma nuvem pesada estivesse sobre sua cabeça todos os dias. como se ele não se importasse com esse ar triste que carrega.

se acostumou a estar sozinho.

e por isso mesmo todas as noites ele passa por essa mesma rua e não ve ninguém a sua volta, nem aqui, nem lá, em nenhum lugar que ele inesteja.

mas hoje la ficou preocupada. ainda não ouviu o anúncio do chinelo de dedo arrastando pela rua de pedra.

“ele deve ter esquecido meu caminho...”

vai dormir reclamando dessa mania de achar que os outros se importarão com ela da mesma forma que se importa com os outros!

“devo ter problemas mesmo...”

mas na manhã seguinte, dentro da caixa de correio aparece uma folha de papel amassada para a menina da janela:

“não te vi ontem? o que houve?”


Carol Miskalo

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