Para não falar com as paredes
Música para tentar dizer o que a minha boca não consegue,
Música triste, primeiramente.
Música que fique na cabeça e ajude nas lágrimas.
Não, não estou forçando.
É que elas podem lavar um pouco a inevitável sujeira,
A inevitável solidão, a inevitável tristeza, o inevitável.
Não, também não estou triste.
Estou puto,
Com o tempo que não pára,
Com a noite que não acaba,
Com você que ainda não volta comigo para casa.
Queria fazer de mim hoje um puto,
Para trepar com todas as estrelas
E cobrar migalhas de atenção:
Por um abraço rasgaria meu sexo na lamina da lua,
Por um beijo entregaria meu corpo ao vento,
Para ser usado por todos os buracos
E em uma companheira queda.
Quero chorar, é isso!
Quero chorar como quem quer ser visto,
Como criança não.
Como homem que quer ser visto.
Quero que alguém me encontre,
Na merda do rastro do fim da noite,
No ultraje da noite,
Onde só sobram putos
E pessoas que não tem com quem voltar para casa.
Quero que alguém me encontre e limpe o meu batom e o meu sangue,
Dê-me uma aspirina, um abraço e uma vodka.
Quero um banho, é isso!
Um banho frio no inferno da pele,
Quero pele nos meus pelos
E carne na minha barba
E verbo na minha boca,
Porque já não tenho mais palavras.
Quero chorar, é isso,
É só isso.
Fábio E. é artista e poeta no Rio de Janeiro
Texto retirado do blog: http://acordesdocotidiano.blogspot.com/
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