Olhou-se longamente naquele pedaço de espelho que tinha nas mãos. Observou suas olheiras, seu cabelo e seus olhos.
Passou vagarosamente a mão esquerda no rosto envelhecido. E continuou ali. Concentrado em si mesmo. Examinando-se como há muito não fazia.
Tirou seus olhos do espelho e olhou para si. Suas mãos sujas. Sua camiseta rasgada. Sua calça desbotada.
Uma lágrima teimosa nasceu no canto dos seus olhos.
Sonhos perdidos. Desejos não realizados. E uma vida que não era a sua vida.
E as lágrimas continuavam caindo.
Ninguém o olha.
Naquele momento só nós na rua que há cinco minutos estava movimentada.
Ele deixa o espelho no banco.
Prende o cabelo. Despeja um pouco de água nas mãos e lava seu rosto. Prepara-se para o café da manhã que a senhora da padaria lhe serve todos os dias nesse horário.
Ao terminar, pega novamente o espelho. Mas, desta vez olha-se com raiva.
“O que nós fizemos comigo?”
(Ana Carolina Miskalo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário